SEJAM BEM VINDOS!

Este livro, que aos pouco está sendo escrito, é dedicado especialmente a bailarina Layanna Monique ― sinônimo de talento, perseverança e ternura.

domingo, 6 de novembro de 2011

3.14: Senhora do Destino

Há coisas que na vida não tem preço

Há coisas que no mundo não se acha

Há coisas na vida que são insubstituíveis

e Há outras que deixam um tremendo buraco


Há coisas que na vida não se apagam

Há coisas que o tempo não corrói

Há coisas que o vento não leva

e Há outras que não existem tampão


Há coisas que não existem remédio

Há coisas que o remédio é FALAR

Falar nem que seja ao destino

Que agora  jaz, ultra-passado.

[COM VOCÊ ESTÁ A PALAVRA 

e com ela ― O Teu destino!
[autor: Anderson Gomes]




[continua no próximo capítulo]

3.13: O vazio da alma

        A janela estava do mesmo jeito... aberta.
A mesa estava no mesmo lugar, quebrada.
A porta havia  sido arrombada, percebia-se...
Mas a casa estava abandonada, fria e assustada, como aquele jovem também estava.

      Seu quarto vazio, atapetado com cocôs de rato, ainda guardava pra ele  os rabiscos de  sua infância.
      Ainda estavam lá desenhados: o sol, o monte, a montanha... e a sua velha amiga árvore ―a babá.
Dela, somente restara um buraco, cujo entulho agora, procurava tampá-lo.

      Do lado de fora, aquele vazio... no meio do Nada.
Naquele quintal:  um barrio cheio de ar...
Mais adiante, o "jovem menino" avistava aquele buraco... cuja lacuna  apontava para um outra ainda MAIOR... 
―O vazio da alma.

     


sábado, 5 de novembro de 2011

3.12: Em algum lugar da Infância

Ouve-se um forte estrondo...  e do meio do Nada, um feixe de luz  refulge  o cavalo fugidio...
―Sobe aqui!―ordena ele.
―Pra onde vamos? ―pergunta o jovem destemido, enquanto montava.
―Fazer uma visita a uma velha amiga.

Decolam.

Juntos vão galgando as montanhas, as nuvens, as estrelas e logo chegam a mundo da lua... Mas ela, não está mais lá... foi  ECLIPSADA.

Desce como um raio o cavalo  alado, ao lado  das fantasias de uma criança escondida que o fazia voar... aquela criança esquecida,  vez por outra aquecida, sob a pele de um jovem cavaleiro solitário na vida... ainda estava ali.

Agora, aterrissa em seu antigo quintal... aquele onde passou a maior parte de sua infância, lugar este ―onde desejara nunca ter saído.


—Por quê as coisas num podem ser do jeito que a gente quer?...Por quê?
Lastimáva-se... Como nos tempos de outrora.

3.11: Quem é Você?

Deu vontade de gritar!
Mas algo calou seu gritou ainda na garganta... era o olho que tudo vê...

Não mais era o sol, não mais era a lua, nem o olhar do animal que deixava sua alma nua... Era ele mesmo:
o olho que tudo vê...

"Você nunca esteve só... e sabe muito bem o que fazer"

―e o que fazer? ―indagou o Jovem  diante  da afirmação do olho que tudo vê.
―Você acha que saiu correndo até aqui, debaixo de sol e chuva, noite após noite sob o hálito da lua, se perdendo na mata, pra se achar numa fazenda e depois dela fugir?
―Você não sabe de nada!―gritou aquele Jovem.
―E você o que sabe?... Não sabe nem como se chama!

SILÊNCIO GERAL



terça-feira, 1 de novembro de 2011

3.10: Um pontinho na testa



      Um pontinho de bosta bem no meio da testa, acordou aquele jovem. Era um sabiá que despertava o sonolento jovem para um passeio fora de hora, fora de tempo e lugar.
―Ei! que "negoço" é esse de mirar bem na minha cara?
―oh! me desculpe meu nobre senhor, me senti atraído a despejar  uma parte de mim, onde mais se necessita.
      Uma pedra  vôou quase no meio das asas do passarinho, imediatamente às suas palavras.
―Quanta violência! ― protestou um dos animais, ali enjaulados; e acrescentou:
―Que força! você quase o  acertou!
―Que raiva! ―grita o jovem, que sai correndo para lavar o rosto. 
       Adiante de si,  dispara o mesmo cavalo, que outro dia recusou-se a fugir com os outros. Relincha, relincha ferozmente, em direção a saída daquela fazenda... desaparece no mato, para o espanto do jovem que observa estupefato. 
Segue-o.
Perde-o de vista, ao mesmo tempo que se perde na floresta densa, e de pouca luz.
Caminha... caminha sem saber o caminho nem de IDa  e nem de volta... Mas no caminho em que está, mais perdido do que se sente, impossível.
[continua no próximo capítulo]

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

parte:3.9: Qual o sentido do existir?

        Noutro dia, cedo ainda, o jovem se dirigiu ao curral, olhou o cavalo, olhou... olhou... concluiu: "indomável!"

―Por que ele não fugiu, com os outros?... Tanta força presa de si mesmo.

Pouco tempo depois,  foi visitar  outros animais capturados. Desta vez,  estava diante de um limite: a condição imposta por seu pai. Soltá-los implicava também em ele mesmo ter que IR... e ir para onde? Ao mesmo tempo se via livre, e preso ao mesmo tempo.
Na contemplação de si mesmo, em vez de abrir a porteira de cada cercado,  outra vez, adentrou, e dormiu com os animais.
      Não havia muita diferença para ele a espécie de lugar  de onde brotava o sono, pois o sonho que ele tinha, era sempre o mesmo: viajar pela lua, caminhar nas estrelas, vagar pelo céu... e ventilar sua L-I-B-E-R-D-A-D-E...
 
Que diferença faria dormir acordado ou de olhos fechados para aquele prisioneiro da liberdade?...a vida era um limbo... e só fazia sentido quando sentido não tinha.
―Qual o sentido do existir? ―gritava  sua alma silenciosa e vazia.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Parte:3:8: O Dilema

É um novo dia...
Um novo campo de aromas se inicia, e consigo, possibilidades.

O burburinho ainda estava instalado na casa.
O clima nublado dava o tom da frieza nas relações entre pai e filho, que nunca fora das melhores, mas agora, após tantos anos separados, eles pareciam agendados  para um eclipse.

Na hora do almoço, o filho não se junta ao pai... Essa é a terceira vez desde a tentativa de abolição da escravatura, daqueles animais.
Então o pai, se dirige ao quarto do filho, e após alguns segundos de um fuzilamento entre os olhares, houve-se apenas uma fala:
―Esta é a minha casa... aqui prevalece as minhas ordens, e se você não estiver satisfeito com ela: saia!...porque da próxima vez que que você surtar, ou tiver um ataque de "heroísmo", eu não vou pestanejar em mandar lhe internar!

Dito isso, retirou-se.
Um silêncio ensurdecedor invadiu a casa  daquele dia em diante...
E aquele jovem, parecia estar diante de um dilema:
―Voltar para a selva, ou permanecer naquela prisão sem muros.

Uma águia rasgou as nuvens que cobriam aquele tempo cinzento... e nas nuvens que cortou, imprimiu a mensagem para aquele dia:
"O que tu queres de fato libertar?"

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

PARTE 3.7: Corações Corajosos

―Ora, não faça essa cara de espanto!... Para quem já conversou com árvore e viajou pela lua, o que há de diferente agora?
―É que eu não esperava...
―Não esperava o quê?... que eu falasse?... Ninguém esperava também que você perdesse a fala por um bom tempo... Ninguém esperava que você fugisse de casa, e nem que você que manifestasse um comportamento animal.
―E como você soube de tudo disso?
―Sei mais de você, do que pode imaginar.
―Eu não posso imaginar, como alguém que sabe tanto, não soube, sequer, fugir...
―Por que a minha prisão não são as cercas desta fazenda, nem as paredes deste curral... a minha prisão não tem portas, nem ferrolhos e nem fechadura...O QUE ME PRENDE É O MEU CORAÇÃO

PARTE 3.6: Prisioneiro de SI mesmo

À tardezinha, enquanto os animais capturados eram aos poucos trazidos de volta à fazenda pelos empregados de seu pai, o jovem libertador ouvia de longe um relinchar ao fundo de seu quarto... parecia que chamava seu nome...
Pulando a janela num único salto, em outro, já estava diante da cocheira de onde vinha aquele "chamado".
Para a supresa do jovenzinho, um dos cavalos não tinha fugido com os outros animais... "Mas a porta estava aberta, o que foi que aconteceu?" Dizia para si mesmo... e enquanto se perguntava repetidas vezes, o mesmo relincho veio a responder as suas questões:
algumas porteiras, embora estejam abertas, não são capazes de libertar um coração prisioneiro de SI mesmo... (por mais animalesco que ele seja).


PARTE 3.6: Uma jaula aberta

Você já se sentiu preso diante de uma porta aberta, mas sem poder sair???
Mas o que te prendia?...Ou o que te prende?
Por que diante das possibilidades que surgem e ressurgem, você se esquiva ou foge?... O que te paralisa?...Ou o que te consome?...
E o dia de ontem, como foi?

Ele sempre estivera embusca do seu  sol... à sombra de SI mesmo...
E como um bicho do mato, estivera sempre de jaula aberta para ir onde quisesse... Mas nunca soube  ir mais além do que já fora...

Mas agora, talvez... ele tenha ido longe demais... soltou todas as feras aprisionadas da fazenda , e despertou a fera de seu pai, que como um leão feroz, rugia cada vez mais alto, a um milímetro de distância da face de seu filho rebelde e libertador.

O jovem rapaz, jamais tinha visto tamanho furor... era olhos em brasa que encarava os seus... pareciam dois sóis vermelhos em miniatura, quase caindo de sua órbita... O olhar do jovem, eclipsaram-se... e este se retirou para o quarto escuro... Enfim se deu conta do SOL que sempre buscou por toda a vida.


domingo, 2 de outubro de 2011

PARTE 3.5: O maior troféu

Agora, ele de fato é um jovem rapaz, de corpo, alma e coração... e o seu coração sentia a tristeza aprisionada nos restos mortais daqueles que ornavam a sala de troféis. Talvez, fosse  apenas assim que  aqueles animais eram vistos, quando vivos e livres na relva.. antes de caçadores os aprisionarem na morte.
Mas seus olhos eram seus, e não eram troféis... ninguém podia fechá-los ante a realidade animalesca  que abatia os seres indefesos da selva.

Abrem-se  as porteiras, e cavalos, bois, búfalos, porcos, patos e galinhas são libertados nessa "primeira remessa", para o desespero do dono daquela fazenda ―o senhor seu Pai... Mas sentir a liberdade estampada nos olhos vivos daqueles animais semi-mortos: lhe devolvia a paz que por muito tempo lhe fora confiscada.
PAZ... o seu maior trofél!

PARTE 3.4: A cavalgada

Haviam olhos sem vida, naquela casa... e aquele jovem menino, percebeu que  os olhos sem vida, não eram os seus...
Os olhos do rapazinho tinha vida, muita vida, embora essa vida se confundisse com a morte... ela sempre fora sua companheira (in)desejavel... estava em todo lugar... e agora encontrava-se diante dele, embalsamada.

No alto daquela obsorção, um piscar de olhos empalhado, é lançado para aquele rapazinho. Os olhos de um daqueles animais, cavalga só para ele... desce em sua direção, e ele pode senti-los. Foi então, nesse momento, que aquele jovem rapaz, entendeu que enquanto se portava como menino, nunca poderia estar à altura do olhar do Outro. Foi aí que passou perceber o que antes não via... foi então que passou a ouvir o que não entendia... foi nesse momento que pôde estar frente à frente com a sua verdade... e estar de frente com a própria verdade é algo que pode ser adiado  e prolongado, assim como a decisão de ver-se como um menino.

sábado, 1 de outubro de 2011

PARTE 3.3: olhos sem vida

Seus olhos saltam do espelho como que procura vida EM QUEM  o está a  refletir.
Cega-se... 
...e logo se desmancha ante a mancha do olhar embassado, distante e perdido daquele jovem menino...
...
Descalço, caminha lentamente para fora do quarto, enquanto o solo  de seus passos descompassam a atenção dos moradores da casa.

Todos vieram ver o que ele via, diante da parede da sala  fria, onde lá no alto, se  exibia cabeças embalsamadas de bichos-do-mato.

Olhos... eram apenas olhos naqueles bichos... o Olhar, já não estava mais com eles... lhes fora roubado.

Eram olhos... apenas olhos e nada mais...
Assim como tantos outros olhos no mundo, de pessoas vivas, mas  igualmente sem vida ―Embalsamam-se no tempo e no espaço.

sábado, 3 de setembro de 2011

Parte 3.2: INDOMÁVEL

Naquela penumbra,
Naquele silêncio,
No sigilo da alma, levanta-se  lentamente,aquele jovem menino, e vai em direção a um espelho.
O que ele vê, o que ele sente, o que pressente diante dele: "impossível dizer... se é real ou ilusão... há um limite pra razão*"...

Não se reconhece na imagem refletida... 
Aqueles olhos não são seus... é da fera que o domava, e que pela primeira vez o encarara, jogados, na lixera... 

Agora a lixeira é de vidro: e está à ceu aberto. Todo o entulho e sujeira soterrada na pele de um "menino-bicho", se esfolava gradualmente para fora de si mesmo.

"Muitas são as coisas das quais desejamos não ver... embora as desejemos." (Anderson Gomes)




*trecho da música: "IMPOSSÍVEL DIZER", da cantora Alessandra disponível em : http://www.youtube.com/watch?v=X54mH6x7c3I Samadello.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

PARTE: 3.1: o limite do silêncio

Havia uma árvore do outro lado da cerca... Mas havia muitas outras do lado de cá... 
Mas... aquela, de lá: era  especial... mais brilhante... mais viva!...
Masss... era  justamente aquela que estava lá do outro lado da cerca. Além de seus limites.

Mais tarde, quando o caçador voltava de sua caçada, encontrou seu filho sentado em cima da cerca, de frente para a árvore de seu desejo.
―O que faz aí em cima? Venha me ajudar aqui com a caça... será nosso Jantar de hoje.
Ele desceu  num único salto, e mostrou em seguida, habilidade, nos preparativos na hora de temperar a caça... porém, do lado de fora da cozinha, deparou-se com algo que mecheu com seus sentimentos. Quando foi jogar no lixeiro, algum resto de material imprestável, avistou em meio ao   lixo,  os OLHOS  do animal caçado...

Tristeza estranha lhe invadiu a alma. Não era apenas os olhos, mas o efeito deles sobre quem o olhava. ..

Agora: Não mais se sabe quem olha quem.
Tristeza estranha lhe invadira a alma... angústia, pesar... Uma dor que lhe arranca um grito!... e o transporta como um raio, para as paredes pálidas de seu quarto.  O pai do jovem menino, pergunta o que houve, e só ouve gemidos. Observa cuidadosamente o filho, não há marcas, nem ferimentos em seu corpo. Suas limitações, e pouco entendimento, não lhe dá condições de perceber um pouco mais além ―as feridas da alma.
"O que poderia ter ocorrido?" Pensa... 

O filho, nada responde a seus questionamentos. Deixa-o quieto...e se retira do quarto. Não o força a falar, pois  sabe que de nada  adiantaria. Dá-lhe espaço...O caçador sabe diferenciar um bicho, de um filho... e aquela hora, era a hora de ser pai. E pais, também devem saber a hora de retirar-se, e respeitar o momento de seus filhos...  respeitando  seus limites.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

PARTE: 3: o limite do H-orizonte

Ele acordou de manhã, 
sentou-se em sua mais nova cama... 
Quarto arrumado...
aroma do campo.

Havia um prato coberto sobre uma pequena mesa, perto da porta. Nele estava sua comida predileta, que seu pai mandou fazer.
Ao perceber o movimento no quarto, tratou-se de dar-lhe as boas vindas:
—Bom dia meu rapaz?

O jovem menino levantou sua vista vagarosamente em direção aquela face, e estranhamente pairou uma neblina de dúvida no ar, porém nada respondeu.
—Seja muito bem vindo, esta casa também é sua, e tudo que vês por esta janela (abre a janela) também é seu!

A luz do dia que entrava pela janela naquela manhã, parecia que inundava sua alma, como se fosse aquele: SEU PRIMEIRO AMANHECER.
O jovem menino se aproxima da janela, senta-se nela, contemplando o horizonte ensolarado, como aqueles, que ainda trazia na lembrança.

Continuando aquele discurso matinal, o pai lhe disse:
—Aqui você estará seguro... Você é livre para fazer o que quiser, Massss... nunca atravesse aquela cerca (aponta)... São terras inimigas...

Dito isso, retirou-se para suas caçadas, rotineiras.
O Jovem menino, continuou ali, na janela, imóvel... tentando abranger com seu olhar,  o limite do horizonte, até onde lhe era possível....

... E, NESTE MOMENTO, UM NOVO HORIZONTE, COMEÇOU A DESENHAR-SE  EM SUA 
 VIDA.

parte 2.15: Achados & Perdidos

 —Não se preocupe que agora ele já está bem...
—oh meu Deus, eu já não sei mais o que fazer com o meu filho...
—Nosso filho você quer dizer... Aliás já estou cansado de ficar repetindo sempre a mesma coisa... Além do que, acho melhor ele ficar por aqui mesmo, passando uns tempos aqui na fazenda... Aqui tem sempre um funcionário meu olhando ele... Aqui ele num se perde não... Né de mato que ele gosta? aqui tem mato, tem mata, tem bicho... faz ele se sentir em casa...
—Você tá quendo tomar ele de mim, isso sim!
—Tomar ele de você?... eu nem me daria a esse trabalho... Pois eu sabia que você mesma iria perde-lo mais cedo ou mais tarde, assim como me perdeu... Aliás, eu mesmo nem sei como consegui passar tanto tempo convivendo com você debaixo do mesmo teto... Mas quem te agüenta?
—Eu te perdi? e desde quando eu ganhei alguma coisa com você?... você  não é flor que se cheire! Quem não te conhece que te compre! Você sempre foi um pai ausente, mesmo quando presente, dentro de casa... Que atenção você dava a ele?... agora quer bancar o paizão?... Quer aliviar as suas culpas?... O que você está fazendo não é mais do que a sua obrigação!...
—Olhe aqui, eu tenho mais o que fazer! Só liguei pra dizer que já encontrei o menino, e que você não precisa mais ficar procurando ele nas ruas, debaixo das pontes, ou no Instituto Médico Legal... Já está aqui em casa, são e salvo... Encontrei ele debaixo de uma árvore todo arranhado, parecia ter levado uma queda e ficou delirando... Num falava coisa com coisa... era céu, era sol, era lua... Não entendi nada... A pancada deve ter sido forte, na cabeça dele... É melhor ele passar uns tempos aqui se recuperando, já mandei chamar um médico, não se preocupe... Qualquer coisa eu te  ligo novamente... Tchau.


domingo, 14 de agosto de 2011

parte 2.14: O ALTO REFÚGIO

Amanheceu, na fazenda... Mas  não na vida de um jovem menino, que desde pequenino  foi engolido pela noite e aprisionado por ela.

Sua árvore, sua estrela, sua lua... suas amigas inseparáveis, revezavam entre si... Mas agora, encontravam-se em "ECLIPSE",e  aquele jovem menino, dormia à ceu aberto, em seu mais profundo sono, onde sonho e fantasia, se fundiam com a realidade... Mas que realidade?
Se lá, em seu mundo as estrelas cantam e dançam― as estrelas do nosso mundo ofuscam umas as outras por um lugar no es-paço.

Incansavelmente, o caça-dor de suas dores, tomou o rapazinho em seus braços, o colocou em seus ombros, e com passos lentos fez o percurso de sempre e o retirou do relento...

Assim era o jovem menino...
Assim eram suas noites sempre que a lua o convidava para dar um passeio num mundo só dela... só deles... e de mais ninguém...
Ela era a sua fiel companheira, seus olhos, seu guia, sua orientação... E sempre que a ameaçava:  a forte luz do dia ―a árvore era-lhe companhia e, seu alto refúgio-protetor.

....................................................

sábado, 13 de agosto de 2011

PARTE: 2.13: O CAOS

Um deserto,
Um frio,
Um tornado,
Completamente atormentado está o rio de seus pensamentos...

Não governa, não dirige...
apenas sente a cena de seu cotidiano caótico e nebuloso

Um deserto,
Um frio,
Um sertão...

E assim está jogado à sorte
e a solidão de seus mistérios

Apenas medo
Apenas morte
E um rio no setão

É um mar vermelho e um cajado
Uma  coluna de  fogo
Uma voz e um trovão

Um deserto,
Um frio,
Um tornado,
Completamente atormentado está um  menino , e seus pensamentos...

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

PARTE 2.12: No rastro do Sol

Todos os dias o mesmo percurso,
o mesmo caminho
e o mesmo trajeto
―tem jeito?

E lá vai ele outra vez, e novamente e de novo...
Seguindo os mesmos compassos confusos,
os mesmos vestígios vazios, e as  mesmas pegadas faltosas, como aquelas deixadas pelo rastro do sol.

E assim vai crescendo aquele menino... 
Cuja infância esvaía em cada pôr do sol...

PARTE 2.11: O pôr do sol

Vê-se uma árvore despontando-se  em meio ao verde...

Ouve-se uma voz retumbante à luz do sol...

―Por quê tanta pressa?
 

O menino freia imadiatamente, buscando um cabresto que nunca lhe fora possível... 
Pára, olha para o alto, bem no  alto...  
e eis que as folhas se moviam como quem lhe queria convidar para uma rica subida no tronco enigmático daquela árvore. 
Sobe.  
E com poucas manobras já atingira o topo, as folhas, a luz. 
De lá, acompanha o percurso do sol, que "a esta altura já se encontrava  no alto".

Contempla... e banha-se com os raios do astro rei, que parece iluminar o seu caminho de volta...

Ele nunca conseguiria alcançá-lo à bom tempo... Mas seu destino, era seu tormento, e também o seu sustento... que a qualquer momento parecia tornar-se seu  "pôr-do-sol".

PARTE 2.10: A mata

Nasceu o dia... e com ele ressurgiu o desejo e  a fantasia daquele que queria a todo custo saber :
"onde  nasce o dia?" ...
"onde ele mora?"...
"como se faz 'apare-cer'?"
Eis o que move sua vida...
Eis  sua razão de viver...

E lá vai o menino-bicho,
galgando a todo vapor, 
seus  mais íntimos obstáculos, 
ao som de suas próprias patas ...

Nada impede aquele menino,
Nada o segura e,
Nada o empata...

E lá vai ele... voraz,
cortando o horizonte,
e desbravando a mata...

"...daquilo que o mata..."

sábado, 6 de agosto de 2011

parte 2.9: A infinita busca

É fria, as horas que antecedem o dia...
E galopando sobre as próprias patas, está o bicho do mato, sob a pele de menino, invadindo a mata em busca de seu destino.

Já despontam os primeiros raios do sol... e uma águia lá do alto, guia o atalho para o melhor caminho... "como se existisse o melhor caminho"... Porém o menino segue seus instintos, aqueles que guiavam sua sobrevivência  dando vazão a sua busca...
a infinita busca de si mesmo.

parte: 2.8: O DISCURSO DA LUA

Alta madrugada... 
No alto, um convite do espaço sideral: a lua cheia desejos.

Chamando a chama do menino, a lua toca sua pele nua, encadescendo seus sonhos mais adormecidos... 
―Olá? sentiu minha falta?―perguntou a lua, e acrescentou:
―eu sei que sim... Vamos caminhar?...
Venha visitar meu mundo, cumprimentar as estrelas, exercitar a grandeza que jaz em você... Aqui você pode ser o que quiser... Ir aonde quiser... 
"O que desejas?", conhecer as montanhas e descobrir as moradas do astro rei?... então, desperta depressa, mais um dia se anuncia, e cor da noite já esta se desbotando... Ali está o horizonte, mas:
"a fronteira dos seus sonhos, é você quem traça !"

sábado, 30 de julho de 2011

parte: 2.7

O abraço consolador,  domava o coração feroz e ferido daquele menino... Agora, sob os cuidados de um desconhecido...

O menino foi levado  para uma a fazenda...  o lar do Caçador, que agora alimentava   aquele "bicho do mato", sedento  e faminto... dava a impressão que do modo como comia, o mundo ia se acabar...

Farta-se...
Deita-se e logo pega no sono... ali mesmo no chão...
O caçador apenas observa ao longe aquele "bicho do mato" embaixo da mesa como um cão sem dono... Talvez fosse dessa maneira, como aquele menino estavesse  se sentindo... Talvez  fosse essa a sua maior  expressão.

Há coisas na vida que não são ditas...
Há outras que são verbalizadas pelo silêncio... (Anderson Gomes)


parte: 2.6

Parace fácil escolher, entre VIVER ou MORRER... mas não para algumas pessoas...
Algumas caminham mortas sem nem o saberem; outras se não morreram, caminham para a beira do abismo se defrontar com o perigo... Não por uma questão de destino, mas por uma questão de BUSCA...

... e o que busca, desde sempre,  aquele menino, não é nada mais, nada menos que sua luta pela sobrevivência... e toda sobrevivência traz um risco de morte.

Ali estava ele novamente buscando-se sobreviver às feras selvagens da noite... como se não tivesse bastado: a fera que o pariu.

Geme... Chora... Geme... Chora...
Às vezes muda-se a sequência deste repertório, mas o conteúdo seria sempre o mesmo, não fosse os passos humanos de um socorro, trazidos pelo caçador, que por ali preparava armadilhas pra sua próxima caçada.

Agora, o menino não se esconde... mas em vez disso, corre ao encontro do caçador, e  se joga sob seus pés... trêmulo.
Desta vez, o "caça-dor" não trazia  nem fruta  e nem suprimentos, mas trouxe consigo  naquele momento, algo muito mais forte que qualquer outra coisa:
―O caçador lhe trouxe um abraço.

Talvez não seja possível entender a linguagem dos homens e dos anjos... mas há linguagens que são universais... (Anderson Gomes)

parte: 2.5

Anoitece.
É quase humanamente impossível sobreviver à mata selvagem durante a noite, sem alguma experiência...  Imaginar um menino sob aquelas condições: o que seria?... A resposta, fica perdida por entre as folhagens...

É frio, e desesperador além do horizonte, isto por ali, não há horizonte...e nesta hora,  só há escuridão... e o choro de alguém, que sempre estivera perdido no mundo, e o mundo que sempre fora o seu, agora se  coloca   diante dele por vias opostas, num só encontro:   
―VIDAMORTE


domingo, 24 de julho de 2011

parte 2.4

Um caçador que por ali passava,
avistou um corpo magro, maltratado pela forme:
caído e desprotegido sob o tronco....

Aproximou-se,
Verificou se aquele corpo ainda respirava
e constatou que o fôlego daquele menino
já estava quase dizendo adeus ao mundo.

Com cuidado, colocou suas mãos por baixo dos ombros do menino,
e aos poucos o foi  arrastando  para fora do tronco.

Derramou um pouco d'água em seu rosto, no intuito de o despertar.
O menino piscou os olhos... e a água que escorria pela boca, agora  aguava a sua garganta seca .

Ele foi recobrando a consciência e tomando mais água por conta própria e ávidamente... era muita sede... Como informar quanto de tempo sem pão, sem conforto, e sem água?
―Quer uma fruta? ―perguntou o caçador.
O menino não respondeu com palavras, porém, não pensou duas vezes e já estava devorando a sacola que o caçador trazia nas costas cheia de frutas tropicais.
Tudo era observado com espanto... parecia que se assistia ao vivo, um bicho-do-mato, daqueles que só se via pelaTV.
―Você entende o que eu falo? ―quis saber, o xaçador. Porém, nada recebeu como resposta... Então, insistiu em mais uma pergunta:
―você tem casa? [silêncio... ouvia-se apenas, o mastigado das frutas]
―tem pais? [silêncio e o mastigado das frutas]
―tem mãe? A esta pergunta a reação foi imediata: o menino pulou para traz, e desapareceu no meio da selva.

Concluiu-se ali, naquele momento que:
―Pode não se entender a linguagem dos homens e dos anjos, porém:
"Há palavras que são universais... e seus significados podem ser os mais  diversos" (Anderson Gomes)


parte : 2.3

A fome bate à porta...
e não há nada para comer...
O menino continua deitado
continua sentindo as marcas deixadas pelo machado
na árvore da sua vida

Ainda não entendiam o que era a árvore para ele
Ou o que ela representava...
 Não é à tôa que ele está ali
Não foi à tôa que chegou até lá
―ela o chamava... e ele ouvia o seu chamado...

"Há coisas na vida que só se escuta com o CORAÇÃO..." (Anderson Gomes)





parte2.2

Em algum lugar da floresta
Em algum lugar da relva
Resta um tronco esquecido pelos lenhadores

E junto a ele, deitado
E quase desprotegido:
Está um menino... 
Um menino perdido...

...Era o menino da árvore
Que ali dormia ao som dos insetos
e sob as picadas de alguns parasitas...
As únicas visitas que podia receber

Como ele sobreviveu até ali: Ninguém sabe.
Como  ninguém sabe também, se ele sobrevive ali...
Sabe-se porém que o SER HUMANO é um ser adaptável
E  desconhece muito de suas potencialidades...
e as potencialidades daquele menino: estavam prestes a eclodir...






sexta-feira, 22 de julho de 2011

PARTE II

Muitos anos se passaram...
Ninguém viu mais aquele menino...

Foi procurado nas ruas,
Nas capelas,
Nos abrigos,
Nos amigos, e no mar...

Procuraram também lá no cemitério,
e era um mistério qualquer vestígio
onde o menino poderia estar

Porém esqueceram de procura-lo na floresta,
Esta guardiã sagrada de segredos naturais.





capítulo 25: o des-SER

Alta espera, que  espera a espera...

 Ninguém viu descer o menino
e ninguém viu o menino descer... apenas "des-SER"
A medida que seu desejo era cortado aos poucos pela raíz

À essa altura... ele já estava longe... muito longe...
e nunca mais voltaria à companhia de sua velha amiga árvore,
e por amor a ela, a deixou...

Mas levou consigo à suas raízes
E estas, ele as levará consigo
aonde quer que for...

domingo, 17 de julho de 2011

capítulo 24: A ENTRADA

―Pode descer que eu sei que você está rapazinho...

Silêncio Geral...
Ninguém fala, ninguém responde... apenas uma  folha verde  caí lá do alto do galho da árvore, denunciando que alguém está ali...

―Vamos, vamos, vamos! Não tenho todo o tempo do mundo! ―insistia a mãe do menino da árvore.

Eu, no lugar do menino da árvore, particularmente perguntaria àquela mãe, que TODO tempo do mundo é esse que ela se refere...  E se ela não tem todo esse tempo do mundo: afinal ―que tempo ela tem?...
Resposta: a de ouvir a professora, a segunda mãe do menino... ou seria a terceira?... já que a segunda tem uma casca dura e é toda recoberta de folhagens?

―Olhe que eu posso mandar cortar essa árvore! ―gritava a mãezona, que não obtendo resultado, retirou-se temporariamente da zona de confronto e foi chamar o vizinho de sempre...

Momentos depois, lá vem os dois: mãe e vizinhos, e um terceiro elemento afiado: um machado.

―Vai descer não? Olhe que não vou chamar de novo! ―apelou àquela mãe, pela última vez.
―Deixe eu subir vizinha, e tentar fazê-lo descer...
―nem adianta, se bem o conheço, ele vai subir cada vez mais; além do que, os galhos são finos demais para suportar o seu corpo, vizinho...
―mas cortar o tronco pode provocar um grave acidente no seu filho...
―É verdade, mas faça aquilo que a gente combinou...

"spraff!!!"
"spraff!!!"
"spraff!!!"

Machado vai e machado vem... Ao todo, foram dadas exatamente cinco fortes machadadas no  grosso  e roliço tronco daquela velha e frondosa árvore, que apesar disso, se manteve firme e forte em seu lugar...

Após alguns instantes, a mãe daquele menino, retira-se  com o seu vizinho, para sua casa, paga-lhe o trato conforme o combinado... Um susto apenas... para logo em seguida, se tudo desse certo, o menino ter espaço  descer mais rápido daquela árvore, a quem, com certeza, ele não queria vê-la derrubada, no chão.

ANOITECE... e junto com as cinco machadadas, dadas, permanece naquela árvore, violentada, as dores de uma triste reflexão:

"pode-se derrubar uma porta; pode-se até desmoronar uma árvore... mas nunca se poderá  forçar a ENTRADA  de um coração" (Anderson Gomes)


capítulo 23: As folhas da vida

―Minha querida arvore
hoje vou escrever em mais uma das suas folhas para dizer que estou muito triste querem me obrigar a ir a escola minha professora veio me visitar mas me escondi e ela falou com a minha mae falando de toda a minha vida na escola pra ela me senti nu se a minha mae quisesse mesmo saber ela me desse mais atenção porque ela só sabe brigar comigo e agora estou aqui em cima escondido outra vez tremendo de frio neste tempo que nao muda é sempre nublado e frio As vezes nem me da vontade de escrever mais ja sao tantas folhas marcadas com a minha vida que as vezes me da medo de voce murchar de tanta tristeza Ontem ela disse que ia cortar voce e se ela fizer isso um dia eu fujo de casa para nunca mais voltar porque ela só sabe reclamar comigo e tirar minhas alegrias e agora quer me tirar de voce
Nao sei o que a minha mae quer de verdade e nem do que ela reclama tanto
Acho que ninguem aguenta ela Mas eu sei que ela é a minha mae e nao deveria ta falando isso dela mas é o que eu sinto sera que eu vou mentir para mim mesmo? O que ela quer?

capítulo 22: LETRAS VIVAS

―ôh de casa?
Era o chamado que se anunciava na mais nova nublada manhã, trazendo à porta do menino, uma professora dedicada aos seus alunos, e que agora, viera atrás deste, que trocou a escola: pela árvore.

Do quintal, com as mãos cheias de espuma  do lavado de roupa, eis se aproxima a mãe do garoto:
―Sim, o que deseja?

Mãe e professora conversam longamente, à portas fechadas... mas atrás de uma delas, colava-se os ouvidos daquele menino, que fazia tempo que não pisava no solo "in-fértil" da escola...
Afinal, o que podiam lhe ensinar? A sentar-se enfileirado com os outros alunos numa posição hierárquica?... Ensinar a avaliar o aluno pela nota?...Quanto vale um aluno?... Seria também ensinar que não se deve discordar do professor? ...Que não se deve dizer nada de diferente do conteúdo da aula?... Ensinar a pintar apenas dentro do contorno do desenho? Ensinar que é feio borrar? Ensinar que o bom menino não faz "pipi" na cama? Ensinar a não pensar? Ensinar a ter respostas prontas e decoradas? Ou ensinar que um bom menino fica bem comportado e bem CALADINHO?
Se for isso: É só o que o garoto sabe fazer: ficar calado a maior parte do tempo que lhe dão... (e dão?)

Ficar lá no "fundão", isolado dos outros "certinhos", se sentindo o caladão, não era o que ele queria fazer... mas eram o que queriam pra ele... Que quanto mais calado: melhor! Afinal, o que ele tinha pra oferecer ?  ―assim falavam.
Para alguns, o menino Não falava coisa, com coisa, e ainda lhes diz que as letras saltam do quadro quando a professora escreve as tarefas de classe... Parecia que as letras tinham vida...parecia que elas queriam comunicar um algo mais além do que estava ali descrito. O que elas queriam dizer? ...Ou: O que elas o dizem?... Mas o que isso interessa a alguém?... Ninguém acreditava no menino das "letras vivas"...

O menino não precisava ouvir mais nada... Todo esse  histórico de sua  vida escolar, acabara de ser minunciosamente detalhado por aquela professora, diante de sua mãe... e agora, como sempre, não restava mais nada a esperar...a não ser:  a punição... além das várias que recebia por ter nascido.

Mãe e professora se cumprimentam e se despedem...
e onde está o menino?... Na árvore... 
Na velha amiga árvore de sempre... à desabafar...


sábado, 16 de julho de 2011

capítulo 21: A MÃE NATUREZA

A árvore pisca outra vez...

e ILUMINOU-SE.

Parece que ela chama o menino...
Por entre as frestas da janela, apenas alguns raios convidam-no para sair daquela prisão domiciliar...
Ficar ali fazendo o quê?... Olhando pro teto? 

O lado de fora da casa , parece ser  muito mais atraente para as crianças, especialmente quando as idéias brilham, e o que não lhes  faltam é imaginação...

Abre o ferrolho bem devagar, e então o menino aos poucos vai abrindo aquela janela. Nesse compasso, ele vai deslisando cuidadosamente por ela, afim de não causar nenhum ruído que desperte os ouvidos sensíveis da senhora sua mãe.

Ainda está choviscando... mas e daí? e criança quer saber?...Além do mais, aquela criança não era feita de  papel... só os cadernos dele, que faz tempo que não vê a escola...

―Olá dona árvore? Há quanto tempo não nos vemos? (risos)

O menino  aproxima-se de um dos galhos, faz deles, seus degraus, e lá de cima, localiza  o berço da estrela que brilha ali dentro.

―Como você é linda!
―Quem? eu ou a árvore?
―aaãH?!―desequelibra-se o menino, diante desta fala.
―Ora, ora... não me diga que vai cair de novo, sair correndo e mergulhar de cabeça no barrio de água, como da outra vez???... Sem essa né?... Já pensou se toda vez que eu querer falar com você, acontecer de você dar uma de mergulhador?... Hoje por exemplo, pensei que você fosse enfiar  a cara na sopa... e olhe que eu nem falei nada...
―Era você???
―O tempo todo...
― !!!
―e não me faça essa cara... já estou me cansando dela... foi a mesma cara que fez estando eu ainda vaga-lume, agora há pouco...
―ali também era você?
―O que você acha? Se uma mosca te afasta, tenho que usar de outras  formas mais chamativas; como  a formiga que te mordeu na queda daquela outra árvore, quando você se perdeu no meio do mato... Fui eu também quem soprou o vento e a chuva, além de ser eu a estrela guia que te salvou da tempestade em que você _SE_ "encontra-va"... Ou será que ainda se encontra?

―Sei lá... é tudo tão maluco... Você é muito doida!―disse o menino.
―Mas não sou eu que estou falando com uma árvore que brilha como uma estrela cadente...
―de-cadente eu diria... ―argumenta o menino, chateado.
―De-cadente... Mas sou eu quem tenho lhe acompanhado e lhe protegido desde que você nasceu... Ouvia todas as suas preces lá do céu, orações essas contadas a uma velha árvore, que não sabe fazer outra coisa a não ser ocupar o papel de sua mãe...

―Cale a tua boca sua tagarela! você é ridícula! Você é burra! Você é má! Você não serve pra superproteger ninguém, porque você... Você não presta!
 ―Você está falando para mim, ou para sua mãe?
―Cale-se!!! ―bradou o menino revoltado chamando a atenção da pacata vizinhaça...

A mãe do menino sai em direção aqueles gritos, que pareciam mais retratos de violência... o que não deixa de ser... Mas contra quem?

―ôôÔh menino!!! o que você está fazendo aí em cima, a essa hora, e nesse tempo de chuva?...
SILÊNCIO GERAL

A mae insiste:
―Num era pra você estar dormindo  essa hora? Dessa já daí! ―grita a mãe, imperiosa.

―Não desço, não!
―Como é a história???
―Não desço, não!
―Você quer que eu suba até aí e arraste você pelos cabelos até aqui embaixo, quer?
―Quero!... Essa árvore é minha, e eu desço daqui quando eu quiser!
―Mas você está brincando comigo num é?...amanhã mesmo eu mando cortar essa árvore se você não descer agora mesmo!... Desça Já!

E o menino da árvore: desceu...sem mais uma palavra... Deixando nos  galhos  a sequinte questão:
―Do que uma criança é capaz  para um pouco de atenção?

obs: Que ATENÇÃO, você tem se prestado?



sexta-feira, 15 de julho de 2011

Capítulo 21: Um Nada!

―Mamãe tem uma mosca no meu prato!
―Onde menino?
―Ela estava bem aqui...
―Ora, ora... ja sei qual é a sua desculpa pra não comer...
―Mas mãe, tinha mesmo  uma mosca no meu prato...
―Sei... sei...―responde a mãe, se dirigindo para a cozinha.

Após o jantar, o menino passa pela quinta parede de seu quarto semi-escuro, e lá pisca um vaga-lume, sobre seu caderno.

O menino  se aproxima, se agaixa... observa-o de perto, olhos bem arregalados.
De repente: o vaga-lume se apaga e uma árvore se acende... é árvore do menino, sua velha amiga de sempre... ainda molhada, lá no lado de fora, pelos efeitos do tempo.

―venha ver mamãe!
―O quê menino?―aproxima-se a mãe.― deixe-me terminar meus serviços!
―Num está bonita?
―Como sempre esteve meu filho...agora deixe sua mãe voltar ao trabalho...
―Mas mamãe eu estou  falando do...
―Meu filho, feche essa janela... eu tenho mais o que fazer, né?...
―Já eu?―pensa o menino,―Não há mais NADA pra fazer... e é por isso que eu faço o meu próprio NADA...
...Não é NADA demais se eu pular a janela de novo e sair na chuva...
...Não é NADA demais eu viajar pra lua...
...Não é NADA demais eu pintar o 7 e ainda dar outra  demão nele...
...Não... Não é nada demais...
...Não é NADA demais eu sair por aí no caminho do sol, acompanhado pelo vento...
...Não é NADA demais tudo o que fiz e que faço para ter um pouco de... de... é... deixa pra lá...
...Quem sabe da próxima vez eu fujo de casa, e quando voltar tenha uma  festa de aniversário esperando por mim?... seria muito mais legal que um prato de  sopa!... eca!...só comi pra não levar uma surra com o mesmo cinto de sempre...aff!

Deita-se na cama, o inconformado  menino, e continua a resmungar...

―sabe de uma coisa? vou construir uma casa em cima da árvore... assim, fico lá bem escondidinho e minha mãe vai pensar que eu fuji [risos].
Quem é que nunca fez um NADA DEMAIS na vida? [sorrir]


terça-feira, 12 de julho de 2011

Capítulo 20: ECLIPSE

Ainda é noite...
....chove   muito...
E os olhos daquele menino
não pára de relampejar

Uma noite que não se acaba
Um dia por vir
Um sol a desejar

Uma busca que não cessa
Uma verdade que não chega
Um  amor que foi embora
e parece nunca mais voltar

um altar
um joelho
e uma prece

Uma árvore que padece
Às lágrimas de um menino
que cresce eclipsado.

O coração troveja diante do vendaval que sopra em sua sopa
só pra convence-lo que sua noite não termina ali,
Mas enquanto dia ―será sempre noite.


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Capitulo 19: o Córrego do coração

Da janela lateral
do quarto de dormir
vê-se o menino molhado
rente àquela árvore

agaixado e gemendo de frio
alucinando à luz de sua estrela guia

A mãe, não espera outra miragem
agarra-se a certeza de que aquele é seu filho, ali na árvore
Corre e  o acolhe levando-o para córrego de seu coração

Troca-lhe as vestes
Troca-lhe as cores
Troca-lhe o toque
Troca-lhe o tom:

―Meu filho, nunca mais faça isso com mãe... fiquei muito preocupada...―diz ofegante a mãe do menino, que ainda agitada, penteia no quarto,  os cabelos do filho.

Um pouco mais tarde, junto a sala de jantar, trouxe-lhe um prato de sopa bem quentinha, enquanto seus pés, repousavam dentro de uma bacia d'água morna.

Uma rara frase, do menino, atravessa a mesa de uma extremidade à outra, quase engasgando à mãe, numa daquelas colheradas que ela elevara a boca.
―Mamãe, cadê papai?

SILÊNCIO GERAL

Aquela, era a pergunta de sempre, que vez por outra, visitava o jantar, que um dia ja fora, a hora mais feliz do triângulo familiar...

Finalmente, uma resposta ali regurgiteia:

―Seu pai...―responde baixinho...―seu pai foi embora...
―Por quê mamãe?
―Não sei meu filho...termine de comer, que eu vou lavar a louça na cozinha...―retira-se.

De seu assento, vê-se a rua... da sua janela lateral...


Ainda chove...
...e chove muito...
Relampeja... assim como  cada  lampejo dos melhores momentos que o menino ainda conseguia recordar da presença paterna.

Não duvide das lembranças infantis...
Nunca substime, jamais:  o intelecto de uma criança.
Não limite seu alcance...pois muitas vezes, a limitação não é da criança, mas de VOCÊ adulto, que um dia, ja fora criança também.

domingo, 10 de julho de 2011

Capitulo 18: O jardineiro

Ela sempre esteve lá: ―enraizada...
Talvez o quisesse lá também...enraizado, como toda "mãe-árvore"...
Talvez  ela o desejasse ali,  por vários anos  naquele mesmo lugar de sempre... Assim  menino algum  iria para longe...

Talvez, ali com ela, nunca enfrentaria  as tempestades que enfrentava.
Agora, por motivos "da natureza", ali estava ele de volta:
―O MENINO e a  ÁRVORE
A sua antiga e velha amiga árvore de sempre e de todas as horas...

Agora esperava apenas  a chuva passar...e o tempo abrir...

No momento estava seguro...
Sua estrela o protegia
Mas não da chuva...pois ainda chovia, mas de lugares escuros
 e desconhecidos...

O garoto esquecido, por sua vez, não  pensava... 
...ele apenas buscava:
―descobrir, avançar...

E enquanto estivesse ali,
continuaria ali...
―enraizado sob o mesmo solo infértil

Ancorado infrutífero, 
sem respostas ...
Sem respostas brotadas...

Apenas cotado,  coitado,
cortado e podado
pelos jardineiros da vida...

Capitulo 17: os frutos da vida

Ele anda, caminha, e tropeça...
ele tropeça, caminha e cai...
Os pés  estão escorregando,
e a chuva nervosa ainda cai

Troveja!
Troveja!
Veja como ele vê:
Embaçado e embaraçado ―é o seu andar...

Mas assim, nos passos que caminha,
consegue voltar ao rumo que  mantinha
seguindo... seguindo à sina que assina em seu caminho...

Assim chega ao seu quintal
O quintal de sempre
O quintal da árvore:
―a árvore do conhecimento do bem e do mal.

Conhecimento este que ele não tem... ainda não tem
Mas que a própria árvore da vida, está tratando de dar-lhe seus preciosos frutos: 
doces e amargos!

Capitulo 16: UMA ESTRELA GUIA

Uma estrela, brilha, la no alto
Onde quase não se pode ver
É a guia do menino
É a guia do seu ser.

Chove muito
É uma  longa espera na estiagem do menino.
A árvore lhe faz  abrigo
A solidão se faz destino

O menino anda,
e dá voltas
dá em torno de si mesmo
Vai seguindo a estrela guia
que o conduz ao fim do túneo

ele anda...
e continua...
vai embusca de si mesmo:
―o sol já não existe
―e a lua o deixa eclipsado.



sexta-feira, 8 de julho de 2011

Capítulo 15

Eis que o vento sopra
Forte o temporal se vê...

e com ele vem a cor da noite
com  densas nuvens...

O sol se esconde por muitos dias... 
Dorme o sono da morte
Sem norte, sem  perspectivas...


Não se sabe se chove por fora,
ou se chove por dentro daquele menino,
apenas chove...
e chove muito...



Um relâmpago cruza os céus...
Ninguém sabe o que ele  corta,
apenas risca de um lugar ao Outro:
um lugar vazio,
à esmo.

domingo, 3 de julho de 2011

Capítulo 14: O filho do vento

Sopra o vento...
e com ele o cinza das nuvens que traz.

Não há mais sol,
Não há mais luz nesse momento nos olhos de quem queria alcança-la.

Calado,
contempla os prenúncios de um céu nublado,
triste... pelo resto do dia.

Chove.
E aquelas gotas que caem em seu rosto
nem sequer refresca a alma
de quem racha por  amor

Troveja...
e a voz do trovão  ecoa nitidamente no coração do menino

Parece que ele entende o  idioma dos céus;
Já esteve com a lua
e agora com a chuva
escuta o grave do lhe  que diz o trovão:
"Tua mãe te proCura!"
―Me procura? Me procura pra quê?... Ela me bate, ela me surra, e às vezes penso que me atura, só porque sou filho dela... e sou?
"Ela te pro-Cura"
―Cura? que cura?... eu não preciso de cura, se ela mesma é a minha dor...
"ela te ama!"
―ama?... e o que é amar?...eu só sei o que recl-amar, recl-amar, recl-amar...
―Há tantas outras formas de amar...―sussurra o vento.
―e isso é amar?―indaga o menino.
―Há quem diga que toda forma de amor vale à pena...―chia  a chuva.
―então, já estou pagando à pena...―responde o garoto em meio a tormenta...
"Prefiro ser filho do vento, à pro-Cura do sol. "



sábado, 2 de julho de 2011

Capítulo 13: O OLHAR DO DIA

Existe fome, que o pão, não mata.
Existe sede, que  água, não sacia.
Existe coisas, que dinheiro não compra.
e existem outras: que não se traduz.

e o simples olhar de uma criança
pode ser um poço de mistérios
ou  jardim de fantasias...

e o olhar  da criança, ali sentada
visa assentar sua busca
Ou assustar sua dor 


Uma dor des-conhecida
Cuja  busca numa noite
Era busca pelo dia... 

O dia que ele nunca conheceu...



sexta-feira, 1 de julho de 2011

Capítulo 12: Rumo ao Sol

Amanhecia...
e nos braços da árvore a criança dormia,
embalado no canto dos bem-te-vis...

Mas... lá estava ele...
outra vez... 
Na companhia de sua velha amiga árvore...


Os primeiros raios de sol tocam-lhe a pele,
É uma sensação única —ser acordado pelo astro rei.
Desperta...
... O menino desce da árvore num único salto. Destino? O caminho do sol.


E lá vai ele, naquela mesma estrada, acelerando os passos, rumo ao nada.
Ele corre, ele anda, ele pára...
Ele corre, ele anda, ele pára...

Ele corre,
Ele anda,
e ele pára...
e ...para onde vai?
―Rumo ao nada―, ou melhor...rumo ao sol, antes que ele suba demais outra vez, para o menino poder descobrir  aonde ele mora...

Ele cansa,  ele senta e ele chora...
e sua única compnhia nesta hora
é a fome inimiga de sua missão.

Seu coração quer a constante busca,
Mas seus pés quer o Pão.