A árvore pisca outra vez...
e ILUMINOU-SE.
Parece que ela chama o menino...
Por entre as frestas da janela, apenas alguns raios convidam-no para sair daquela prisão domiciliar...
Ficar ali fazendo o quê?... Olhando pro teto?
O lado de fora da casa , parece ser muito mais atraente para as crianças, especialmente quando as idéias brilham, e o que não lhes faltam é imaginação...
Abre o ferrolho bem devagar, e então o menino aos poucos vai abrindo aquela janela. Nesse compasso, ele vai deslisando cuidadosamente por ela, afim de não causar nenhum ruído que desperte os ouvidos sensíveis da senhora sua mãe.
Ainda está choviscando... mas e daí? e criança quer saber?...Além do mais, aquela criança não era feita de papel... só os cadernos dele, que faz tempo que não vê a escola...
―Olá dona árvore? Há quanto tempo não nos vemos? (risos)
O menino aproxima-se de um dos galhos, faz deles, seus degraus, e lá de cima, localiza o berço da estrela que brilha ali dentro.
―Como você é linda!
―Quem? eu ou a árvore?
―aaãH?!―desequelibra-se o menino, diante desta fala.
―Ora, ora... não me diga que vai cair de novo, sair correndo e mergulhar de cabeça no barrio de água, como da outra vez???... Sem essa né?... Já pensou se toda vez que eu querer falar com você, acontecer de você dar uma de mergulhador?... Hoje por exemplo, pensei que você fosse enfiar a cara na sopa... e olhe que eu nem falei nada...
―Era você???
―O tempo todo...
― !!!
―e não me faça essa cara... já estou me cansando dela... foi a mesma cara que fez estando eu ainda vaga-lume, agora há pouco...
―ali também era você?
―O que você acha? Se uma mosca te afasta, tenho que usar de outras formas mais chamativas; como a formiga que te mordeu na queda daquela outra árvore, quando você se perdeu no meio do mato... Fui eu também quem soprou o vento e a chuva, além de ser eu a estrela guia que te salvou da tempestade em que você _SE_ "encontra-va"... Ou será que ainda se encontra?
―Sei lá... é tudo tão maluco... Você é muito doida!―disse o menino.
―Mas não sou eu que estou falando com uma árvore que brilha como uma estrela cadente...
―de-cadente eu diria... ―argumenta o menino, chateado.
―De-cadente... Mas sou eu quem tenho lhe acompanhado e lhe protegido desde que você nasceu... Ouvia todas as suas preces lá do céu, orações essas contadas a uma velha árvore, que não sabe fazer outra coisa a não ser ocupar o papel de sua mãe...
―Cale a tua boca sua tagarela! você é ridícula! Você é burra! Você é má! Você não serve pra superproteger ninguém, porque você... Você não presta!
―Você está falando para mim, ou para sua mãe?
―Cale-se!!! ―bradou o menino revoltado chamando a atenção da pacata vizinhaça...
A mãe do menino sai em direção aqueles gritos, que pareciam mais retratos de violência... o que não deixa de ser... Mas contra quem?
―ôôÔh menino!!! o que você está fazendo aí em cima, a essa hora, e nesse tempo de chuva?...
SILÊNCIO GERAL
A mae insiste:
―Num era pra você estar dormindo essa hora? Dessa já daí! ―grita a mãe, imperiosa.
―Não desço, não!
―Como é a história???
―Não desço, não!
―Você quer que eu suba até aí e arraste você pelos cabelos até aqui embaixo, quer?
―Quero!... Essa árvore é minha, e eu desço daqui quando eu quiser!
―Mas você está brincando comigo num é?...amanhã mesmo eu mando cortar essa árvore se você não descer agora mesmo!... Desça Já!
E o menino da árvore: desceu...sem mais uma palavra... Deixando nos galhos a sequinte questão:
―Do que uma criança é capaz para um pouco de atenção?
obs: Que ATENÇÃO, você tem se prestado?